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Alarmes em rede de pesca são usados pela primeira vez no Brasil

O Toninhas do Brasil, projeto focado na conservação da toninha (Pontoporia blainvillei), instalou, nesta semana, os primeiros alarmes acústicos em redes de pesca no Brasil. A ação, que  visa reduzir a mortalidade acidental da espécie, aconteceu no litoral paulista e faz parte de uma  iniciativa inédita no país, que ocorre simultaneamente nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina.

A toninha está classificada como criticamente em perigo de extinção na lista de espécies ameaçadas do Ministério do Meio Ambiente (MMA). A principal ameaça é a captura acidental  na pesca (bycatch), ou seja, não intencional, já que as toninhas se enroscam nas redes de  emalhe. A redução no número de animais que morrem em decorrência disso é um dos principais  desafios à conservação da espécie. Para contribuir na solução desta problemática, o Toninhas  do Brasil, em parceria com os pescadores, está avaliando o uso de alarmes acústicos em redes, em diferentes realidades de pesca artesanal.

Esses pequenos aparelhos, de em média 15 cm e 150 gramas, são movidos a bateria e quando entram em contato com a água, emitem um sinal ultrassônico. Acoplados às redes de emalhe mantem os golfinhos afastados, evitando assim o bycatch. Estes dispositivos já vêm sendo utilizados em outros países e foram testados pelo Projeto em experimentos controlados com resultados satisfatórios. Segundo o coordenador de pesquisa Renan Paitach, as toninhas se mantêm a uma distância de no mínimo 100 m do alarme ligado, com possibilidade de retornar à área poucos minutos depois da retirada da rede. “Agora nossos esforços estão direcionados a entender como irão funcionar em situações reais de pesca no Brasil, considerando aspectos operacionais e socioeconômicos”, completa o pesquisador.

Pescadores parceiros de cinco comunidades irão utilizar os alarmes em suas redes e  serão acompanhados nos próximos 12 meses. Para a bióloga Marta Cremer, coordenadora geral do Toninhas do Brasil, a ação configura um grande avanço em prol da conservação da espécie, que é o foco do projeto há mais de 20 anos. “Pensar em alternativas que reduzam a captura acidental é benéfico para todos, dos animais aos pescadores, por isso essa parceria é fundamental”. Entretanto, a pesquisadora pondera que um conjunto de estratégias deve ser considerado quando se pensa na conservação da toninha, como o ordenamento pesqueiro, a educação ambiental e a comunicação, entre outras. Por meio de múltiplas atividades, o Toninhas do Brasil, que conta com a parceria da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, vem contribuindo na construção participativa de estratégias de redução das capturas acidentais de toninhas. O Toninhas do Brasil é executado pela Univille, em colaboração com a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Associação MarBrasil; e a Universidade do Estado de São Paulo (UNESP) e o Instituto Biopesca.

Toninha, o golfinho invisível

A toninha, cientificamente conhecida como Pontoporia blainvillei, é um pequeno golfinho endêmico do Oceano Atlântico Sul Ocidental, ocorrendo somente nas águas do Brasil, Uruguai e Argentina. De hábitos costeiros, as toninhas são encontradas em profundidades de até 50 metros, formando pequenos grupos familiares. Esta característica faz com que a espécie seja vulnerável à intensa pressão exercida pelas atividades humanas, sobretudo a pesca, que é mais intensa próximo à costa, sendo a captura acidental em redes de emalhe o principal risco à conservação da espécie. A toninha encontra-se na categoria “vulnerável”, segundo a Lista Internacional de Espécies Ameaçadas (IUCN, 2017). No entanto, no Brasil a espécie passou de “vulnerável” para “criticamente em perigo” de extinção em apenas dez anos. Entre agosto/2015 e outubro/2020 foram registradas 2.696 toninhas mortas entre os estados de SC e SP. A população total de toninhas estimada para essa porção do litoral é de menos de 7.000 indivíduos. O alto risco de seu desaparecimento somado ao comportamento da espécie, mais discreto, que não costuma saltar, tem feito muitos pesquisadores e simpatizantes chamarem a toninha de “golfinho invisível”. Tal alcunha, além de referir-se às características da espécie, lança luz à discussão do quão pouco conhecida é a toninha e o risco do seu desaparecimento antes mesmo que este quadro mude.

Acompanhe o Projeto Toninhas do Brasil nas mídias sociais @toninhasdobrasil

Contato para entrevista:

Naira Albuquerque (Coordenadora de Comunicação Toninhas do Brasil)

Telefone: (54) 99931-8004

E-mail: nairarosanaalbuquerque@gmail.com

O Toninhas do Brasil realizou, nesta semana, a primeira instalação de tecnologia acústica para afastamento de toninhas em redes de pesca. A iniciativa busca alternativa para redução da mortalidade acidental de golfinho ameaçado de extinção
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