A toninha (Pontoporia blainvillei) é o golfinho costeiro em maior risco no Brasil e está listada como criticamente em perigo de extinção na Lista de espécies ameaçadas do ICMBio. A principal ameaça à espécie é a captura acidental em redes de pesca (bycatch), ou seja, a captura não intencional, sendo a redução desse quadro um dos principais desafios para a conservação da espécie.
Para auxiliar nesta problemática, o Projeto Toninhas do Brasil, vai testar de forma inédita, em diferentes realidades de pesca artesanal, os alarmes acústicos em redes. Reunindo pesquisadores e instituições de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, os esforços de pesquisa e conservação do projeto se voltam para a realização de um projeto piloto com pingers. Pinger é o nome de um pequeno aparelho movido a bateria que, quando acoplado às redes de pesca emite um sinal ultrassônico que alerta os golfinhos da ameaça das redes, evitando assim o bycatch. Estes dispositivos já foram testados pelo Projeto em experimentos controlados e, de acordo com o coordenador de pesquisa Renan Paitach, apresentaram resultados satisfatórios, com grande potencial para auxiliar na conservação da toninha. “Quando o pinger está ligado, as toninhas se mantêm a uma distância de no mínimo 100m, e quando ele é desligado elas retornam à área poucos minutos depois. Agora nos resta entender como o pinger irá funcionar em situações reais de pesca, considerando aspectos operacionais e socioeconômicos”.
Nesta fase, o desafio é o acompanhamento do experimento em diferentes realidades pesqueiras artesanais ao longo da costa. De forma contínua, pescadores de cinco comunidades irão utilizar pingers em suas redes, que serão monitoradas nos próximos dois anos. Para a bióloga Marta Cremer, coordenadora geral do Toninhas do Brasil, o experimento configura um grande avanço em prol da conservação da espécie. “Desde seu surgimento, Toninhas do Brasil tem direcionado esforços na busca de alternativas para conservação, sempre levando em consideração as necessidades das comunidades locais. Quando a captura é acidental, ou seja, não desejada, pensar em alternativas que reduzam essas interações são benéficas para todos, dos animais aos pescadores”.
Entretanto, a pesquisadora pondera que medidas efetivas para a conservação da toninha não são simples e devem conciliar diferentes estratégias, como o uso de tecnologias para a redução das capturas acidentais, o ordenamento pesqueiro e outras iniciativas de políticas públicas. Tendo isto em vista, o escopo de ação do Projeto conta ainda com um diagnóstico da cadeia produtiva do pescado, arenas de diálogo com pescadores e outros atores-sociais, curso de formação para professores da primeira infância e um plano de comunicação estratégica. Se somadas todas as atividades, ao longo dos três estados, o Projeto que conta com a parceria da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, deve atender ao menos 14 comunidades e contribuir efetivamente com a construção de uma proposta participativa de mitigação das capturas incidentais de toninhas para uma pesca mais sustentável.
Toninha, o golfinho invisível
A toninha, cientificamente conhecida como Pontoporia blainvillei, é um pequeno golfinho endêmico do Oceano Atlântico Sul Ocidental, ocorrendo somente nas águas do Brasil, Uruguai e Argentina. De hábitos costeiros, as toninhas são encontradas em profundidades de até 50 metros, formando pequenos grupos familiares. Esta característica faz com que a espécie seja vulnerável à intensa pressão exercida pelas atividades humanas, sobretudo a pesca, que é mais intensa próximo à costa, sendo a captura acidental em redes de emalhe o principal risco à conservação da espécie. A toninha encontra-se na categoria “vulnerável”, segundo a Lista Internacional de Espécies Ameaçadas (IUCN, 2017). No entanto, no Brasil a espécie passou de “vulnerável” para “criticamente em perigo” de extinção em apenas dez anos.
Entre agosto/2015 e outubro/2020 foram registradas 2.696 toninhas mortas entre os estados de SC e SP. A população total de toninhas estimada para essa porção do litoral é de menos de 7.000 indivíduos. O alto risco de seu desaparecimento somado ao comportamento da espécie, mais discreto, que não costuma saltar, tem feito muitos pesquisadores e simpatizantes chamarem a toninha de “golfinho invisível”. Tal alcunha, além de referir-se às características da espécie, lança luz à discussão do quão pouco conhecida é a toninha e o risco do seu desaparecimento antes mesmo que este quadro mude.
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Contato para entrevista:
Marta J. Cremer (Coordenadora Geral – Projeto Toninhas)
Telefone: (47) 3471-3816
E-mail: projetotoninhas@yahoo.com.br
Naira Albuquerque (Assessora de Comunicação – Projeto Toninhas)
Telefone: (54) 99931-8004 E-mail: nairarosanaalbuquerque@gmail.com